Apesar de ser uma pessoa relativamente bem organizada, nunca deixei de seguir os meus instintos e fazer o que o coração me pede. Mesmo no tempo em que começava logo em setembro a planear as férias do ano seguinte, deixava sempre uma margem para a "loucura" e não raras vezes, acabávamos "perdidos", a discutir de mapa na mão, porque tinha mandado os planos pela janela fora e metia-me por caminhos que nem constavam do mapa da Michelin.
Ontem a filha fez anos e, como habitualmente, a mãe tirou o dia. Só que ontem tinha um trabalho urgente para acabar e foi à empresa sem hora certa para sair.
Chegou por volta das 11 horas, sem termos nada programado. Ainda estávamos a tempo de escolher um sítio para almoçar mas, como já aqui escrevi, no fim deste verão do nosso descontentamento, qualquer lugar que escolhamos, a paisagem limita-se a campos secos ou mata queimada. E aqui na zona não é boa ideia tirar um dia útil para passear, sem corrermos o risco de passarmos longas horas num engarrafamento.
Saímos de casa ainda sem termos decidido e, já na Ponte Vasco da Gama, "atirei" com Évora como hipótese. Ela pegou no telemóvel, marcou mesa no sítio do costume (que está quase sempre lotado) e aí fomos nós. Era um pouco apertado, até porque levámos o carro dela (com um motor mais fraco) e eu não gosto de "apertar" com o pequenito.
Comemos bem, mas à saída ficámos outra vez sem programa. Lembro que estávamos no Alentejo onde as temperaturas não permitem a um mortal andar a passear-se pelas ruas da cidade àquela hora.
Sempre de improviso, voltei a "atirar" um palpite:
- Vamos a Beja passar o resto da tarde com os tios?
- Não é muito longe só por uma tarde?
- É longe, mas se não formos lá, vamos para casa contar "cagadelas" de mosca.
E lá abalámos. Fizemos a surpresa aos velhotes, a paisagem até nem estava tão deprimente como tinha imaginado e valeu a pena. Com aquelas pessoas vale sempre a pena. São muito chatos e, mesmo a meio de uma semana de trabalho, convenceram-se que íamos passar o fim de semana (eheheh), mas ainda são daquelas pessoas genuínas que valem, sobretudo, pela simplicidade. Nunca me arrependo de fazer 400 quilómetros, nem que seja só por um dia com eles, embora na hora da partida fique sempre aquela mágoa de sabermos que a visita pode muito bem ser a última. São pessoas já perto dos 80 anos e a tia também faz parte do nosso malfadado "clube" dos oncológicos. Por isso há que aproveitar o tempo, antes que acabe.
E a minha "miúda" já tem 35 anos. :)